Lembro muito bem. O ano era 2009,
Foi o que fiz: inscrição no site,
entrevista on line, formação e treinamento. Assim, fiz parte durante um mês, da
equipe que selecionou os voluntários gaúchos para os Jogos Rio 2016! Imersa
nesse espírito olímpico, conheci pessoas, ouvi histórias que motivaram a opção
pelo voluntariado, aprendi muito com as trocas. Embora tivesse uma ficha de
avaliação e um protocolo a ser seguido, era sabido que todas pessoas que se
propuseram a participar das dinâmicas e entrevistas para serem voluntários, já
seriam automaticamente escolhidas. Se propor a ajudar, sem saber a quem, é uma
grande virtude que deve ser valorizada. Cada um tem um jeito de se propor a
ajudar, o que importa é a intenção.
O fato de reunir cerca de 25
pessoas num grupo com o mesmo propósito, tornava o trabalho diário muito mais
leve, isso também pela energia positiva produzida nesse espaço. Sorrisos,
gentilezas, boas palavras, só nos motivam, e fazem a diferença no cotidiano. Mesmo
com as dificuldades que ora se apresentava, a vontade em estar lá só aumentava,
a medida que realizava as dinâmicas e me envolvia com membros do comitê.
Ainda em 2015 a organização do
comitê divulgou o primeiro lote para sorteio e compra de ingressos. Ainda sem
saber se de fato poderia ir atuar como voluntária, pois os dez dias de atuação
era um dos complicadores nessa função, fiz a compra para jogos de voleibol.
A carta convite para voluntária
nos Jogos Paralímpicos chegou em fevereiro de 2016, e alguns meses depois veio
a definição da função e esporte: assistente do local de competição da Paracanoagem.
O mais importante chegou no mês de maio: a escala de trabalho, com os dias de
trabalho. Seis dias atuando diretamente na função estabelecida, com uma folga
na semana, me davam condições de ir. Pois teria que pedir autorização de
afastamento do trabalho de apenas quatro dias.
Autorizada pela SMED/Porto
Alegre, equipe diretiva da escola que trabalho, e família, pude começar a me organizar para o que chamaria de
Experiência Inesquecível: confirmação de escala de trabalho, compra de
passagens, treinamentos on line, treinamento presencial, retirada de uniformes
e credencial, reserva de hotel. Ufa! Agora sim, tudo certo!
O cenário da semana era a Lagoa
Rodrigo de Freitas, com o Cristo abraçando a causa e toda beleza do Rio de
Janeiro ao redor. O primeiro dia de trabalho me despertou para esse
encantamento pela cidade, minha cidade de nascimento, e de poucas visitas.
“Gratidão um”: estar neste lugar!
Iniciei minha escala no dia dez
de setembro, e as provas de competição seriam só dias quatorze e quinze. Nesse
período anterior, em que as delegações treinavam, serviram para conhecer as
instalações, os materiais utilizados, o trabalho propriamente dito. A
coordenação poderia ter separado os voluntários por grupos de trabalho. Mas
não! Todos voluntários passaram por todas funções, para aprender e experimentar
situações diferentes. “Gratidão dois”:
estar sob a coordenação de pessoas que pensam nas possibilidades de
aprendizagem de todo o processo de trabalho, e não preocupam-se apenas com o
resultado final.
Passada a tensão do primeiro dia,
fiquei admirada pela disposição dos atletas. Pessoas com históricos diversos
das suas deficiências estavam ali, com toda vontade em treinar, focados em seus
objetivos, cordiais com os voluntários. E cada vez que auxiliava de perto
alguma equipe, desde carregar a cadeira, segurar as próteses, alcançar uma
garrafa d’água tinha a oportunidade de refletir sobre o que é de fato a
deficiência física, e até que ponto ela interrompe os sonhos. A nossa limitação
está na mente, e não no corpo.
“Gratidão três”: pela oportunidade de pensar sobre o que me motiva? Até
que ponto os meus problemas/dificuldades são empecilhos para a concretização
dos nossos sonhos? Quantas das nossas desculpas são de fato verdadeiramente
sérias para nos impedir de realizar o que é considerado impossível?
No dia de competição, disposta a
cumprir a função que fosse designada, tive a sorte de ficar na linha de
chegada, e acompanhar de perto as vitórias e derrotas, os sonhos conquistados,
e os postergados; sorrisos e lágrimas. Abraços de conforto e celebração. Cabe
aqui a velha frase clichê: “Todos são vitoriosos!”. Pelo pouco incentivo ao
paradesporto, poucos patrocinadores, pouca divulgação da canoagem em si, e
mesmo assim, permanecem firmes.
“Gratidão quatro”: perceber sucesso também na derrota, valorizando cada
passo, acreditando que é possível reconstruir os objetivos.
Dia de folga, aproveitei para
assistir outras competições, conhecer outros espaços olímpicos e arenas. Na
área de lazer do Parque Olímpico havia vários estandes dos patrocinadores
oferecendo vivências diversas com o esporte adaptado para crianças e jovens. Brincadeiras
simples, que estimulam o uso de habilidades e sentidos nem tão desenvolvidos.Incrível
como as crianças se permitem em se aventurar em situações novas. Louvável essa
preocupação do Comitê Olímpico em divulgar as diferentes modalidades, através
das atividades práticas.
“Gratidão cinco”: quantas vezes ousamos experimentar algo pela primeira
vez? Em que medida nos permitimos?
Eu particularmente, me permiti
viajar sozinha, com todos anseios de mãe, esposa, filha e profissional.
Correndo o risco de ser questionada e julgada por essa opção. Me cobrando, e de
certa forma me culpando por tudo que vivi. Enfrentei meus medos, e sentimentos
de reprovação. Resultado? Sobrevivi. E foi maravilhoso. Foram dez dias de
intensa aprendizagem para a vida. Faria tudo de novo!