26 de out. de 2016

Eu, tu, nós e elas

Andréias, Devianes e Aninhas ... Sei que vcs tentaram me alertar ... mas perdoem-me... o amor em demasia me vendou os olhos.... o óbvio estampado nas provas, nao me deixavam outra alternativa senão apontar o dedo só pra vocês: mensagens, torpedos, e mails já anunciando o início do fim... Mas na tentativa de preservar o "nós", culpar "elas" era muito mais fácil, poderia me eximir do mea culpa, sem necessidade da auto reflexão, nem readaptação do conto de fadas tão sonhado dos comerciais de margarina. Eram "elas" que estava estragando meu plano tão perfeito para o "nós".

O tempo passa... e o "felizes para sempre", tão desejado por qualquer ser que respira, foi ficando mais distante. Até porque cometemos o erro de criar expectativas na relação, e não sabemos lidar quando o pote de margarina acaba.  E é no "tu" que agora a culpa recai ... as histórias, as cenas, as provas se repetem ... mais um alerta dado, e as vendas nos olhos continuam em uso. Já nem acho "elas" tão importante ... Julgo, condeno, e culpo "tu", por não caber nas minhas vontades, por me fazer chorar, por me deixar carregar o peso do mundo! ... Sim era essa a sensação!

O tempo continua passando ... e fiz promessa de que faria tudo diferente se a mesma história se repetisse. Adivinha? Ela se repete. Já era sabido. Eu já tinha me avisado. E cadê a coragem de fazer tudo diferente, de virar o jogo? ... Só então me dei conta que a culpa estava no "eu" ... Ainda sem definir se fraca demais, por não enfrentar o que viria ou virá pela frente, ou forte demais, por suportar em silêncio tanto tempo!

Um alerta piscando em cores fluorescentes, gritando para o "eu". Mostrando que a conjugação dessa história deve ser na primeira pessoa; que o roteiro pode ser alterado, embora o plano inicial fosse outro. Frases clichê retiradas do facebook caem bem nesse momento: "saia da zona de conforto", "amor-próprio em primeiro lugar".

Enfim: amadurecendo, endurecendo, e entristecendo com esse turbilhão de sentimentos concentrados num só "eu".

E depois de escrito, leio, releio, ... só eu vou entender. Ainda assim sigo com o registro, para que um dia tenha a oportunidade de reler e pesar o que valeu a pena ou não! Guardo pra mim, e antes que exploda ... escrevo! Às vezes faz bem, quase um consolo!Um desabafo verborrágico!


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11 de out. de 2016

Rio 2016


Lembro muito bem. O ano era 2009, e a confirmação do Rio de ujaneiro como cidade sede das Olimpíadas me trouxe uma certeza: quero estar lá! E em 2015 e 2016 aconteceram muito mais coisas do que poderia prever no ano que foi dada a notícia.


Em 2015, em meio a crise financeira do país e notícias pessimistas sobre a organização dos jogos, o sonho de participar do evento parecia que ia por água abaixo.Um dia, li a informação que seriam recrutadas pessoas da área de pedagogia, psicologia e administração para fazer a seleção dos voluntários. Um trabalho envolvendo os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em Porto Alegre, e na minha área de formação, muito me interessava. Eu queria fazer parte desta construção, mesmo que fosse de longe!


Foi o que fiz: inscrição no site, entrevista on line, formação e treinamento. Assim, fiz parte durante um mês, da equipe que selecionou os voluntários gaúchos para os Jogos Rio 2016! Imersa nesse espírito olímpico, conheci pessoas, ouvi histórias que motivaram a opção pelo voluntariado, aprendi muito com as trocas. Embora tivesse uma ficha de avaliação e um protocolo a ser seguido, era sabido que todas pessoas que se propuseram a participar das dinâmicas e entrevistas para serem voluntários, já seriam automaticamente escolhidas. Se propor a ajudar, sem saber a quem, é uma grande virtude que deve ser valorizada. Cada um tem um jeito de se propor a ajudar, o que importa é a intenção. 

O fato de reunir cerca de 25 pessoas num grupo com o mesmo propósito, tornava o trabalho diário muito mais leve, isso também pela energia positiva produzida nesse espaço. Sorrisos, gentilezas, boas palavras, só nos motivam, e fazem a diferença no cotidiano. Mesmo com as dificuldades que ora se apresentava, a vontade em estar lá só aumentava, a medida que realizava as dinâmicas e me envolvia com membros do comitê.

Ainda em 2015 a organização do comitê divulgou o primeiro lote para sorteio e compra de ingressos. Ainda sem saber se de fato poderia ir atuar como voluntária, pois os dez dias de atuação era um dos complicadores nessa função, fiz a compra para jogos de voleibol.

A carta convite para voluntária nos Jogos Paralímpicos chegou em fevereiro de 2016, e alguns meses depois veio a definição da função e esporte: assistente do local de competição da Paracanoagem. O mais importante chegou no mês de maio: a escala de trabalho, com os dias de trabalho. Seis dias atuando diretamente na função estabelecida, com uma folga na semana, me davam condições de ir. Pois teria que pedir autorização de afastamento do trabalho de apenas quatro dias.

Autorizada pela SMED/Porto Alegre, equipe diretiva da escola que trabalho, e família, pude começar a me organizar para o que chamaria de Experiência Inesquecível: confirmação de escala de trabalho, compra de passagens, treinamentos on line, treinamento presencial, retirada de uniformes e credencial, reserva de hotel. Ufa! Agora sim, tudo certo!

O cenário da semana era a Lagoa Rodrigo de Freitas, com o Cristo abraçando a causa e toda beleza do Rio de Janeiro ao redor. O primeiro dia de trabalho me despertou para esse encantamento pela cidade, minha cidade de nascimento, e de poucas visitas.
“Gratidão um”: estar neste lugar!
Iniciei minha escala no dia dez de setembro, e as provas de competição seriam só dias quatorze e quinze. Nesse período anterior, em que as delegações treinavam, serviram para conhecer as instalações, os materiais utilizados, o trabalho propriamente dito. A coordenação poderia ter separado os voluntários por grupos de trabalho. Mas não! Todos voluntários passaram por todas funções, para aprender e experimentar situações diferentes. “Gratidão dois”: estar sob a coordenação de pessoas que pensam nas possibilidades de aprendizagem de todo o processo de trabalho, e não preocupam-se apenas com o resultado final.

Passada a tensão do primeiro dia, fiquei admirada pela disposição dos atletas. Pessoas com históricos diversos das suas deficiências estavam ali, com toda vontade em treinar, focados em seus objetivos, cordiais com os voluntários. E cada vez que auxiliava de perto alguma equipe, desde carregar a cadeira, segurar as próteses, alcançar uma garrafa d’água tinha a oportunidade de refletir sobre o que é de fato a deficiência física, e até que ponto ela interrompe os sonhos. A nossa limitação está na mente, e não no corpo.
“Gratidão três”: pela oportunidade de pensar sobre o que me motiva? Até que ponto os meus problemas/dificuldades são empecilhos para a concretização dos nossos sonhos? Quantas das nossas desculpas são de fato verdadeiramente sérias para nos impedir de realizar o que é considerado impossível?

No dia de competição, disposta a cumprir a função que fosse designada, tive a sorte de ficar na linha de chegada, e acompanhar de perto as vitórias e derrotas, os sonhos conquistados, e os postergados; sorrisos e lágrimas. Abraços de conforto e celebração. Cabe aqui a velha frase clichê: “Todos são vitoriosos!”. Pelo pouco incentivo ao paradesporto, poucos patrocinadores, pouca divulgação da canoagem em si, e mesmo assim, permanecem firmes.
“Gratidão quatro”: perceber sucesso também na derrota, valorizando cada passo, acreditando que é possível reconstruir os objetivos.

Dia de folga, aproveitei para assistir outras competições, conhecer outros espaços olímpicos e arenas. Na área de lazer do Parque Olímpico havia vários estandes dos patrocinadores oferecendo vivências diversas com o esporte adaptado para crianças e jovens. Brincadeiras simples, que estimulam o uso de habilidades e sentidos nem tão desenvolvidos.Incrível como as crianças se permitem em se aventurar em situações novas. Louvável essa preocupação do Comitê Olímpico em divulgar as diferentes modalidades, através das atividades práticas.
“Gratidão cinco”: quantas vezes ousamos experimentar algo pela primeira vez? Em que medida nos permitimos?

Eu particularmente, me permiti viajar sozinha, com todos anseios de mãe, esposa, filha e profissional. Correndo o risco de ser questionada e julgada por essa opção. Me cobrando, e de certa forma me culpando por tudo que vivi. Enfrentei meus medos, e sentimentos de reprovação. Resultado? Sobrevivi. E foi maravilhoso. Foram dez dias de intensa aprendizagem para a vida. Faria tudo de novo!
 

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